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O sorrir em uma noite enluarada

A solidão toma a noite e torna tudo mais sombrio, mais frio, mais triste com o céu prateado carregado de sonhos de algodão, que num sopro se desmancham. Jogado em sua cama, o jovem comtempla da janela, ao seu lado, o sorriso dela. Tão cálida e meiga! É a luz que dá vida à sua noite tão melancólica.

Ele já não mais se sentia só, e sua escuridão já não o impedia que seu coração se expandisse até o encontro de sua amada. Tão bela, mas tão difícil de tê-la! Se escondia por de trás de seus véus, e sorria delicadamente para o rapaz à cada noite.

Como poderia se conter com a paixão se a distância o corroía? Como poderia ele, em sua pequenês, na vasta imensidão do universo, amá-la tão somente num mundo frio demais para seu coração caloroso? Se encontrando no decorrer das insônias, ele despencou de seu sonho e chocado, colocou-se a racionalizar, e foi à procura de uma moça.

Foi em busca do eco correspondente que fosse capaz de selar o casal. E encontrou uma jovem de olhos brilhantes como as estrelas, de pele macia como a nuvem, de movimentos suaves como os ventos e cabelo negro como o céu. Eles se amavam como nunca amaram alguém. Faziam-se juras de amor e promessas inquebráveis. Tudo seguia em perfeita sincronia, pela chama que os moviam. Eles riam, se divertiam, se abraçavam, se beijavam, brigavam e diziam palavrinhas, e acima de tudo, se amavam. Aqueles sentimentos efervencentes os carregavam para um mundo mágico, onde pudessem ter paz a dois. Suas almas se encontraram e descançaram como nunca.

E aquele belo sorriso que um dia encantara o jovem rapaz de sua janela, havia ficado na fantasia, no surreal, no impossível.

O tempo não para e a moça gradativamente diminuiu o fulgor de seus desejos, e envolveu-se de ojeriza demonstrando pretextos para não mais encontrá-lo e já não atendia as suas ligações. "O que aconteceu? Qual seria o motivo de tantas desculpas repentinas?"

Com o passar dos dias, o fantasma daquela jovem o acompanhava pela casa, enchendo-o de saudade, e aquela velha solidão que o levava por anos, retornara à tona.

A casa tornou-se sem vida novamente, vazia e silenciosa. E por fim, a sua amada foi embora para nunca mais voltar, destruindo o alicerce de um jovem que se entregou aos seus sentimentos mais puros e verdadeiros. Seus dias permaneciam constantemente tristes e pesarosos. A dor de sua alma se trancava no corpo e desmanchava-se em lágrimas.

Certo dia, ao chegar de seu exausto trabalho, sentiu a necessidade de um banho relaxante seguido de uma cama bem confortável. Já adulto, sentia o peso dos destroços de seus sonhos em sua alma, cativeiro da realidade; o racional havia quebrado sua liberdade de sentir o inalcansável.

Escorado na janela, observava as crianças emanarem alegria à vizinhança e às famílias que estavam reunidas a cantar. O homem sorriu e passou rapidamente o olhar pelo céu. Ao voltar-se para ele novamente, fitou naquela imensa Lua, amarela, já tão adulta quanto ele, cheia de amor, cheia de alegria, cheia de luz, cheia de si... cheia!

"Como havia me esquecido de você? Quanta imprudência e boçalidade refleti a você!"

Ele jamais havia estado tão perto dela antes. Encantador, o luar lhe acariciava o semblante e abrandava a alma.

O silêncio se fez ao ignorar os risos, as palmas, a cantoria e ao venerar tal beleza reconhecendo o mar de brisa incansável que a Lua soprava em seu rosto. Ela jamais o abandonara. Continuava a mesma misteriosa Lua que era quando ainda jovem.

O tempo se gasta, e desgasta o que agora é velho, que degusta seu chá de erva doce, na varanda do último andar, enquanto lisonjeia sua bela amada Lua.

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